quinta-feira, 27 de setembro de 2007

NEUROSE, O EFEITO DA RELIGIOSIDADE




Desejo compartilhar com os meus leitores, com as idéias surgidas durante uma viagem para um Congresso em um determinado estado brasileiro, cujo objetivo da mesma era participar da comunhão, conhecer e interagir com os companheiros de outros estados, na presença de Deus; onde orar, ouvir a palavra e relatórios do trabalho seria uma boa oportunidade para alimentação da nossa fé, e aprofundamento do compromisso com a missão para qual fomos chamados. Em fim uma oportunidade para o crescimento espiritual. Muitos dos irmãos estavam ali com a família inteira, visto ser um local aprazível e convidativo também para o lazer.
Não podemos abraçar um feixe de rosas sem que sejamos furados pelos espinhos, ao menos que possamos raspar os espinhos do caule de cada uma delas, e é isso que às vezes tento fazer, a comunhão é importante e imprescindível entre os cristãos; mas numa viagem, ou em outra circunstancia onde a falta de planejamento, aliada a heterogeneidade de pensamentos, idéias, crenças, temperamentos e, comportamentos estão fazendo parte do jogo o tempo inteiro, dá para nos sentirmos em um Big Brother, entre aqueles que dizem professar a mesma fé.

Os vários tentáculos do cristianismo, batizados sob títulos denominacionais dos mais diversos têm tentado às vezes uma coalizão ou pelo menos viajar juntos em prol da “obra” mas, como já mencionei, cada um com o seu paradigma, no qual fora formatado onde na maioria das vezes fala mais alto o espírito da religiosidade, que para defender seu ponto de vista, arquétipos e pretensões fere o mais nobre principio da comunhão. E como disse certo filosofo “todo fundamentalista é carnívoro” desejo ficar longe da antropofagia dessa gente.

O cerne da questão: Ainda na viagem foi dada a oportunidade para que as pessoas compartilhassem da avaliação do evento, quando alguém ventilou a questão dos momentos de lazer que alguns tiveram, chamando a atenção para o tópico exclusivamente espiritual, como se estivesse com o sentimento de culpa por ter se dado ao direito de passar algumas horas numa piscina. Achei aquilo um absurdo, quando tive a oportunidade falei para todos que se tranqüilizasse e não alimentasse sentimento de culpa, pois o lazer também é importante para o ser, e que é importante para o homem ser ministrado na totalidade; isto é: no nível Psicobiologico, Psicossocial, e Psicoespiritual. E que cuidar do corpo templo do Espírito Santo faz parte da adoração. Mas, na fé irracional, a inexistência da autoconsciência e a compartimentalização do Self, fala mais alto. É como disse Rubem Alves “Deus nos fez livres, mas a religião nos colocou numa gaiola”.
Levanta-se então a voz lunática, em defesa da espiritualidade cega e radical, e questiona: Seria num hotel, na oportunidade de um congresso o melhor lugar para o lazer? Pois todos deviam está ali para buscar a Deus e consagrar a vida, e que a visão dele era a missão internacional; bem eu não tive o interesse em responder para não polemizar, pois também não tinha o interesse de conquistar a antipatia nem muito menos a simpatia, dos ouvintes, nem tão pouco buscar auto-afirmação, para não está no mesmo nível do meu interlocutor. E o meu avô já dizia que “a melhor resposta é aquela que não se dar.”
E, ai fica a questão, se, em um encontro de evangélicos, onde a maioria está hospedada em um hotel com piscina de águas térmicas, não é o melhor lugar para o lazer. Seria então o melhor lugar ou o único lugar para consagrar a vida e ter um encontro com Deus? Seria então necessário sair para um outro estado, enfrentando uma viagem estressante, para ter um encontro com Deus ? O Farisaísmo nestes ambientes rola solto, por esse e outros motivos, crente pra mim não passa de objeto de estudo. Jesus mandou fazer discípulos.

Seguir a regra é fácil difícil é ter bom senso. De que vale o seu cristianismo se ele não lhe dar sustentação para assumir uma postura ética. De que vale a sua vida se ela não for um divisor de águas.
Este povo vive exemplos negativos calcados em pressupostos positivos. A religiosidade com seus dogmas e paradigmas, produz crentes neuróticos obsessivos, enquanto, princípios cristãos produzem discípulos.

E levanta-se mais uma vez a voz lunática, portadora de uma fé inepta, porta-voz da religiosidade, embora com espetacular domínio da oratória, porém disseminando conteúdo caricato e deteriorado no que concerne a ética cristã, conforme o mesmo evangelho que o formatou. Hitler foi um dos maiores oradores de sua época arrebatava as multidões faminta de justiça, porém hoje é reconhecido como um demônio, aliás desde o seu tempo, após ter tirado a vida de milhões de pessoas. Penso que não é preciso dizer que fanatismo mata.

Levanta-se a voz e clama, dentro da condução em movimento, “eu não sei amar” não “aprendi a amar nem o amor Eros” “não sei levar minha mulher ao orgasmo” “e muitos homens não sabem satisfazer sua mulher” em meio a um frenesi de verbosidade, deixa escapar parte do material inconsciente que lhe atormenta, fervendo em busca de satisfação, porém reprimido pela religiosidade. “Aqui tem crianças” retrucou alguém, e a voz lunática responde: "as crianças são umas bênçãos, eu estou falando para os adultos"............................. E haja NEUROSE.
" Nenhum crente pode ser verdadeiramente crente, se ele não entender que deve ser plenamente livre para agir conforme a sua consciência" ( João Calvino)
Jesus veio restaurar o ético, curar o caráter, e libertar o ser.
Isaias Rodrigues Pereira
Bel. em Teologia e Especializado em Psicanálise Clinica